sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Capitulo 1: Fatalismo

 

Na Alvorada do primeiro amanhecer uma força tomada de dor e escuridão resolveu destruir os planos do criador, a esta força os homens a apelidaram de destino. Nós os anjos a conhecemos por outro nome: Á Estrela da Manhã"

A cidade do Rio de Janeiro, A cidade maravilhosa, a pérola incrustada na Baía de Guanabara. Nunca pensei que seria aqui meu reencontro com aquele que um dia amei, nunca pensei que depois de todos esses milênios, incontáveis anos, que antecediam a memória da humanidade seria aqui o nosso ultimo encontro, aqui eu sepultaria minhas ultimas esperanças, minha vida, minha esperança de viver. Hoje eu mando meu amor de volta ao inferno e em sua esteira a minha felicidade.

Em umas das ruas do recreio dos bandeirantes, um dos bairros mais abastados da cidade, eu olho o lugar onde será meu ultimo encontro com tal criatura, a mansão, monumental para os padrões da cidade, possuía mais de 5 mil metros quadrados, com dois seguranças à porta, um caminho de pedras amarelas que levava até a porta e garagem. Sempre apreciei seu senso de humor Nathanael.

Oculta nas sombras da mente, ultrapassei os portões como se fosse um fantasma aos guardas que faziam a proteção do perímetro. Eles nada viram quando venci os portões de ferro como se eles não existissem, e comecei minha caminhada na estrada de tijolos amarelos. Será que ele pensa que é a bruxa má do oeste? Seria engraçado o ver desta forma.

Quando chego á porta eu vejo que a mesma esta trancada mística e mundanamente, uma runa espectral se fazia visível á maçaneta da porta. Está espécie de feitiço dificilmente pode ser quebrado, é necessário uma enorme energia para destruí-lo, o melhor a se fazer é procurar outra entrada ou tentar desvendar a palavra que abre a porta. Rodeei a casa atrás de uma outra entrada mas todas as janelas e entradas possuíam a mesma runa, Realmente não havia outro jeito, eu teria que descobrir o pequeno mistério.

Olhei a runa e reconheci o que a mesma dizia "Da rosa dos ventos qual o meu preferido?" Realmente eu não fazia a menor idéia de qual era a sua predileção, olhei a minha volta e vi no topo da porta um pequeno boneco de Elphaba a bruxa má do oeste. Então tudo ficou claro, virei-me para o maçaneta e disse: Zéfiro .

A maçaneta chiou como um bule e depois emitiu o som da porta se abrindo, o que tornava tudo curioso demais, pois se uma pessoa tivesse a chave mundana não conseguiria entrar na casa. Será que meu alvo me esperá? Quem será o algoz nesta história? Céu ou Inferno? Adentrei a porta principal e vi uma grande escada de com degraus de madeira, que subia ate o segundo andar, a sala no qual adentrei possui um grande sofá com uma televisão ponta de linha, duas portas a direita e uma a esquerda, mas a cada sombra, a cada fresta existia uma negritude alem do normal, como se a casa se alimentasse da luz emanada pelas lâmpadas, cheguei mais perto de uma grande sombra que estava localizada abaixo da escada e era negra como o medo, tão desesperador quanto os segundos que antecedem a morte, tão terrível quanto abismo, aproximei o rosto e foi então que eu ouvi, o choro de uma criança, tão fraco quanto o sussurro, o coro de vozes rezando a deus, um homem implorando pela vida, estiquei meu dedo e toquei aquela maça disforme de sombras e foi como um soco em minha face, dezenas de mortos no chão, centenas de vitimas em desespero, uma boca em um sorriso sádico ria descontroladamente. Dei dois passos atrás cambaleantes e olhei a minha volta, nada de estranho somente aquela escuridão sinistra que continuava a emanar seu réquiem de desespero morte e sangue.
Foi então que resolvi subir a escada e andei por um longe corredor, onde as sombras ficavam cada vez mais fortes, nesse caminho, eu nem precisava me concentrar nas sombras para ouvir, choros desesperados e risos eufóricos, aonde há morte e desespero sempre há quem sinta satisfação e alimente seus desejos mais sombrios, cheguei a porta de onde a emanação era mais forte, quase sufocante, nela havia outra runa idêntica a aquela que eu vi na porta de entrada, disse a palavra-passe e a porta chiou novamente e se abriu magicamente, dentro do aposento eu via um grande salão, o chão de mogno liso, ao lado direito um grande retrato de uma mulher segurando uma lança e perfurando o coração de um homem que estava ajoelhado pedindo-lhe a mão em casamento, no meio da lança havia uma aliança multicolor como um arco-íris ao redor anjos lutavam no calor ardente a uma batalha; a mulher projetava uma sombra sem as asas de anjo e o homem projetava a sombra de um grande demônio.

Eu reconhecia os dois membros da peça, o homem a direita era Natanael e a mulher a esquerda sou eu Alujah, uma anjo guerreira. E isso aconteceu a muito, muito, muito tempo. Pelos traços foi o próprio Natanael quem pintou esse quadro.
Continuei a olhar a esquerda e vi que ali jazia uma mulher em um grande sofá,nua e belíssima, continuei meu olhar e ao fundo em uma pequena plataforma estavam grandes janelas com imensas cortinas, e um homem ao piano, o homem, o ser mais belo que eu já vira em toda a minha existência de bilhões de anos, tocava alheio a minha entrada, as janelas entreabertas faziam as cortinas balançaram com os ventos noturnos, e o homem continuava a sua melodia, que tinha acordes tão suaves como a brisa marinha, ao termino da mesma ele se levantou olhou para mim, com lindos olhos verdes, mais profundos que qualquer abismo e sorriu, sua face tão bela amoleceria qualquer mortal e muitos imortais, mais eu estava imune a este feitiço a muito tempo. Ele quase me levara a ruína muitos milênio atrás. O homem caminhou elegantemente a minha direção, vestia uma calça social preta com sapatos também negros e uma blusa azul escura com detalhes em prata, seus cabelos negros encaracolados davam-lhe um ar poético,desprendido, distraído meio aluado, ate que ele falou numa voz que fariam as pedras verterem lágrimas.
- Quanto tempo que não nos vemos alujah, não esperava uma visita tão repentina, desculpe, mas eu não preparei nada para você. - disse o homem caminhando em direção ao quadro onde bem abaixo existia um pequeno bar com uma quantidade razoável de bebidas - aceita um drink? - Concluiu com um sorriso.
- Você sabe que eu não usufruo de prazeres carnais, você mais do que ninguém deveria saber disso - disse sem alterar a expressão facial
- Há claro, como eu poderia me esquecer -disse isso virando e encarando o quadro que estava bem acima da sua cabeça- É algo bem duro pra se esquecer, depois de nós termos caminhado por bilhões de anos juntos, você me rejeitou, me traiu como se eu não fosse sequer importante. - disse com um rosto cheio de amargura
- Você se esquece dos horrores que você queria perpetrar, governar homens como se fosse um deles, engravidar mortais, trazer a luz essas aberrações que vocês chamam de filhos- disse agora com o rosto um pouco carrancudo- você se auto intitulou um deus e passou a governar os homens a seu bel prazer. Você não é um deus Natanael, você não pode governar os homens, você não é nada alem de um demônio. - Concluiu Alujah.
- Como se você fosse muito melhor do que eu, se escondendo atrás das ordens do todo poderoso e vendo os homens se matarem uns aos outros sem fazer nada, isso não é ser obediente Alujah, eu chamo isso de covardia, você amava os homens tanto quanto eu e não moveu uma única palha pra protegê-los deles mesmos quando eles mais precisaram, você simplesmente não fez nada. Podia ter feito muita coisa, mas você não fez nada Alujah - disse Natanael visivelmente perturbado.
- Eram as ordens do criador Natanael, não devíamos intervir - disse.
- Você amava Abel tanto quanto eu alujah, e quando Caim o assassinou bem em frente a nossos olhos e que você fez? NADA! Foi isso que você fez, você não fez nada, quando eu tentei impedir o assassinato e Miguel me deteve você simplesmente não fez NADA! Você é uma tremenda hipócrita, jamais admitirá isso mais você não passa de uma hipócrita- Disse Natanael.
- Eu fiz aquilo que fui criada para fazer Natanael, eu lutei contra os meus extintos que eram tão fortes quanto os seus de proteger o puro e permaneci obediente- disse já perdendo a paciência- e olha o que você fez agora Natanael, eu consigo sentir a sua semente maligna dentro daquela mulher - você pretende trazer à vida a desolação
-Não! Eu vou trazer um líder forte que vai elevar os mortais a algo além do esperado, eles vão se tornar maiores que nós Alujah, não é a preservação da humanidade que você pretende e sim a preservação da superioridade de sua espécie. Eu elevarei os homens acima dos anjos, e é por isso que Miguel mandou você até a mim, ele mais do que ninguém quer que os homens permaneçam onde estão, mas os mortais o superarão alujah e isso você nada pode impedir - com um maneio de mãos de Natanael e o chão ondulou e ar tomou um cheiro da água o teto refletia os céus, os vento sacudia seus cabelos e o faziam ainda mais belo e nos pisávamos sobre as águas do mar - Olhe para aquela cidade -disse Natanael apontando para a direita e lá estava a cidade do Rio de Janeiro, linda, maravilhosa, os braços do cristo sobre a cidade, os prédio iluminados era um show de imagens e tudo parecia tão belo. - fique comigo alujah e nós juntos seremos muito mais do que já fomos, vamos ser mais do que deuses, nos seremos heróis alujah, nos traremos o bem a humanidade, nos faremos deles saudáveis, inteligentes e divinos- ele se agachou sobre as águas da baia da Guanabara e fez um circulo na água do mar com a ponta dos dedos e as águas mostraram épocas em que nós amávamos e não havia nada para nos afastar, em uma mistura intensa de cenas que alternavam em passado presente e futuro as águas mostravam-nos juntos e trazendo maravilhas a humanidade, a raça que juramos determinados a proteger - Por favor, Alujah, não me abandone mais uma vez, venha comigo, acredite em mim e farei com que os homens lembrem que fomos nos que desafiamos os céus e os tornamos mais fortes, desafiamos os céus para fazer a vontade do criador- dizia Natanael em profunda tristeza.
- Eu acreditaria em você Natanael se não fosse por isso- agachei-me e toquei a sua mão e de repente as águas tomaram a forma de um grande espelho nos refletindo mesmo à noite e lentamente o rosto mais belo do universo foi se transformando em uma criatura com o rosto flamejante chifres pontiagudos e asas de morcego, as suas mãos eram como garras e sua pele como o magma do centro da terra.
- Mais uma vez você me decepciona Alujah - disse o anjo e lagrimas escorriam pela sua face, lagrimas que quando tocavam o mar produziam um borbulhar intenso nas águas da baía de Guanabara e levantavam uma grande neblina, os ventos começaram a esbravejar e nuvens surgiram aos céus, raios e trovões tomaram a paisagem.
- Ainda a tempo de desistir Natanael, você pode voltar para o nosso lado, você é um guerreiro valoroso - disse ao meu antigo amado
- Tem algo que eu não disse a você Alujah, Eu não me chamo mais Natanael, esse ser morreu junto com a lança que perfurou seu coração. Agora eu me chamo TREBLINKA!!!- E com a voz de um poderoso trovão o mais belo tornou-se uma terrível criatura de quase quatro metros de altura com dentes e garras mortais, com igual vigor eu libertei meu semblante celestial, e um par de asas de raio caiu dos céus e ergueu-se em minhas costas, meus olhos brilhavam como astros em céu escuro e meus cabelos ficaram bancos como a neve ergui minhas mãos aos céus e um raio caiu sobre ele, era minha espada, raio de luz, como a chamavam.
- Huahuahuahauhua!!! Há quanto tempo que eu não a via desse modo alujah!!! - e seus dedos se alongaram como chicotes de fogo.
Preparamos nossos ataques, curvamos nossos joelhos e demos o impulso inicial, a velocidade foi tamanha que produzimos enormes ondas com nossos pés, quando nossas armas se chocaram uma grande tempestade teve inicio e desta batalha... Nesta batalha é que começaria o Armageddon.

***

- Mestre, eu sinto que esta tempestade não é natural, o que será que esta acontecendo- disse um mais jovem dos dois homens.
- O fim dos tempos teve inicio meu jovem, Treblinka e alujah estão em combate na Bahia de Guanabara - disse o mais velho
- Mais eu não vejo nada amo. - disse o mais jovem
- é uma batalha que ocorre no mundo espiritual e somente os anjos e demônios podem enxergar - disse o mais velho
- E como o senhor sabe?- disse o mais novo desconfiado
- O vento, a brisa do mar, os raios, os trovões e as nuvens tudo isso nos diz o que acontece alem dos nossos olhos, um mago atento pode entender muito mais do que acontece com seus olhos se saber olhar "quem tem olhos para ver, que veja" - disse o mais velho

***

A batalha já se alongara por alguns minutos, e os dois combatentes estavam em pé de igualdade. Treblinka era forte e poderoso e Alujah rápida e precisa.
-Não adianta resistir celestial, sua morte esta fadada, seu destino já foi decidido- disse Treblinka de modo frenético
-Você fala demais Natanael!- Disse alujah
-É TREBLINKA!!!!- disse o demônio girando seu chicote e acertando a celestial em cheio, ao toque do chicote a carne celestial queimou profundamente e memórias de vidas sendo ceifadas em campos de extermínio percorreram a mente da celestial, impetuoso o demônio continuou seu movimento e arremessou a celestial com uma tremenda velocidade à superfície da água, a violência do impacto foi tremenda, a celestial sentiu algumas das costelas se partirem com o choque.
- Tolo - Debaixo d'água a celestial elevou seu poder ao Maximo e suas asas tomaram o tamanho de dezenas de metros e uma tremenda onda de raios trespassou o corpo do monstro através de seu chicote, mesmo ferido o demônio levantou a celeste retirando-a das águas
- O povo lá no Rio de Janeiro não vai acreditar quando eu disser que pesquei uma piranha com asas! - Dizia o demônio sarcástico
Com a raio de luz acertei o chicote do demônio e o parti ao meio, corri em investida para o meu carrasco e acertei seu estomago em cheio. Mas mesmo tendo levado tão poderosos golpes ele me acertou com outros cinco chicotes que estavam em sua outra mão. Com tamanho poder minha carne fritou e meu golpe vacilou, no momento seguinte ele subiu em cima de mim e suas mãos não eram mais chicotes e sim garras e elas cortavam a minha cara lentamente, o demônio ria intensamente e se divertia com a perversidade digna dos demônios mais cruéis. Tentei reagir, soquei o rosto do demônio com toda a minha força e despejei uma enorme carga de raios quando o fazia, mas a criatura simplesmente riu e continuou sua obra de arte, meu rosto estava completamente inchado, coberto de sangue, desfigurado quando ele me elevou acima da cabeça virou-me de costas e tocou as minhas asas que eram como raios.
- BEM ME QUER!!!- disse ele quando arrancou uma das minhas asas, a dor foi excruciante, eu jamais tinha sentido nada igual- MAL ME QUER!!!!- disse ele quando terminou de arrancar a segunda asa, e passou a me arrastar sobre as águas, e a paisagem novamente se distorceu e nos estávamos de novo no quarto luxuoso na mansão do recreio, e ele caminhava em direção a mulher e nossos corpos se transmutaram em nossas carcaças mortais.
- Sabe, para que seja possível engravidar uma mortal, é necessário que uma vida morra, é necessário que um ser de grande luz morra para que seja possível o ato, nos podemos simplesmente dar a vida a mortos vivos, zumbis e coisas do gênero e quem determinou isso foi exatamente a pessoa que a enviou aqui, querida, Miguel quando viu que procriávamos com os mortais lançou esta maldição no cosmos usando um pouco da essência de lúcifer que ele desenterrou de uma estrela. Agora você pode pensar, quem é que está certo ou errado, pelo menos você servirá para um propósito, o filho que você me negou, agora a base de sua energia me será cedido - disse o monstro, elevando meu corpo para o alto, com extrema facilidade e com um movimento de mãos eu vi minha essência gritar, cada molécula do meu corpo estava morrendo, e eu não sabia mais a onde estava, duas grandes bolas de energia saíram de meu abdome e ele jogou meu corpo enfraquecido para o lado, minha visão embaçava e ele dizia.
- Você é um dos anjos mais poderosos que eu já conheci Alujah, e olha que eu conheci muitos, não é qualquer anjo que possui energia para dar luz a um iluminado e ainda sobrar mais da metade, mas eu tenho grandes planos para nos querida, belíssimos planos. - disse ele passando os dedos em meus rosto, minha visão completamente embaçada estava começando a rodopiar e ao sabor de seus lábios eu desfaleci.

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