sábado, 30 de abril de 2011

Espelho: prólogo

Prólogo:
E quando você olhar no espelho e vir somente dor e solidão e o desespero tomar conta de sua mente... Então, este será só o começo.


Eu ainda me lembro de como eram agradáveis aqueles dias, quando a minha maior preocupação era como conseguir arranjar dinheiro pro próximo mês. Aqueles dias eram felizes e eu me preocupava tanto. Era tão fácil, tão simples e eu não sabia, como eu pude ser tão tolo? Hoje minha vida gira em torno de medo, mentiras e morte. Como eu pude cair tanto?

Ajeito a gola da minha camisa, apesar da cidade do Rio de Janeiro ser conhecida por ser muito quente, hoje é um dia frio. Muito frio pra minha cidade, fazem 13º graus Celsius lá fora e é um dos dias mais frios que esta cidade já viu. Não seria algo completamente estranho se não fosse verão e ontem tivesse feito um calor de 42º. Os noticiários estão perplexos, os homens do tempo mal sabem o que falar na televisão, mas eu sei o que esta acontecendo. Ele está aqui, e está me chamando. O frio tem o cheiro dele, eu o sinto dentro de mim, gritando pelo meu nome, e eu vou responder ao seu chamado.

Saio da minha casa, pego o meu carro e vou seguindo aquele horror. É como se a cidade inteira cheirasse a ele, chego ate um depósito perto da Avenida Presidente Vargas onde a entrada está convenientemente entreaberta, passei pelo portal que mudaria a minha vida por completo e jogaria minhas esperanças para o fundo do rio mais profundo. Passo pela porta inicial e o frio se intensifica, eu posso sentir as baforadas de ar saindo a minha boca. O lugar era amplo, completamente vazio e sombrio, havia uma grande entrada principal, o chão era de terra com bastante mato crescendo, as luzes piscavam com freqüência, como se tentassem se manter sua dignidade diante da escuridão da criatura.No fundo, envolto em sombras estava o meu objetivo, o cabelos cacheados até o pescoço, a pele branca como a neve, os lábios tão ingênuos, e os olhos frios, vazios, como se já não houvesse nada a se lembrar, além de sua sede, sua dor, e sua morte.

È este monstro que eu vim enfrentar, é este monstro que eu procuro a 12 anos, é este monstro que eu tenho horror em ter de matar. Não importa o resultado desta noite, não importa quem ganhe ou perca, esta noite eu sairei derrotado. Hoje eu vou matar uma parte de mim.

- Você ouviu o meu chamado papai- dizia o monstro com uma voz infantil encolhida no canto e se balançando para frente e para trás- existem monstros atrás de nós, existem coisas que querem nos matar, Você veio proteger a sua filhinha papai? - dizia o monstro com a voz de uma criança de 12 anos como aparentava a mesma quantidade de tempo.
- Você Sabe o por que da minha vinda - eu disse com a voz embargada
- ha então você veio tentar fazer aquilo que não conseguiu fazer a doze anos atrás, aquilo que devia ter feito quando teve a oportunidade - disse a garota
- Na época eu achava que você podia ser curada, na época eu achava que você era a minha filha - Eu disse
- Há, mas eu só me transformei neste monstro por que você não pode me proteger papai, eu estava lá sozinha, sem ninguém para me ajudar, de frente a aquele horror- falou a criança com uma voz chorosa, quase um sussurro- E AGORA OHA O QUE EU ME TORNEI!!!- era como se todas as vitimas que ela fez, nestes doze anos estivessem berrando em horror ao mesmo tempo, centenas, talvez milhares de vozes gritando em horror e agonia, coloco as mãos sobre os ouvidos, aturdido com aquela voz horripilante, este foi o meu erro, pois neste momento, a criatura pulou com uma ferocidade para cima de mim, que eu mal pude acompanhar, mais de 10 metros sem nenhum esforço, suas mãos de criança apertando o meu pescoço como grilhões de ferro, me empurrando como se eu fosse um brinquedo, a pressão do salto foi tão grande que o golpe me levou ate a parede oposta, estourando os tijolos que me seguraram, a poeira subiu para todos os lados e quando ela achou que ia me derrotar com um único golpe, eu mostrei que também aprendi alguns truques nesse tempo, dei um chute em seu pequeno estomago que eu acredito ter doido mais em mim do que qualquer outra coisa, a pequena criatura foi arremessada a pelo menos 5 metros de distancia e rodopiou no ar para cair de pé.
- olha só o que o caçador aprendeu neste tempo, isso não vai salvar você papai- disse o monstro com a voz assustadora novamente.
Aproveitei a distração da poeira para da um salto e me sair da frente do monstro enquanto ele rodopiava no ar. O monstro jogou seu hálito de morte em meio à poeira e a parede, ressecou e abriu-se um enorme rombo nela. Num segundo eu havia dado um salto e já estava novamente indo em direção ao monstro para golpeá-lo mas o mesmo percebeu os meus movimentos e se esquivou dele com uma agilidade impressionante. Aquilo não podia ser minha filha, aquele monstro não podia ser a vida que eu gerei, aquele corpo morto não pode ser a criança alegre e cheia de vida que há anos eu cuidei. Eu não devia ter pena, eu não devia me sentir culpado, eu não devia hesitar como eu estou hesitando. Retiro a minha faca do casaco e tento acertar o monstro mas novamente ele se esquiva com facilidade, mas neste instante eu percebo o medo em seus olhos, aqueles olhos que era completamente vazios, agora estão cheios de terror, do mais absoluto terror.

Ela avança como um demônio e consegue me acertar com as garras em meu estomago, realmente, agora ela não estava mais de brincadeira, agora ela ia usar todo seu poder amaldiçoado para me matar. Dou um salto para trás e recuo uns 10 metros, aquele corte foi profundo e eu estou sangrando muito, tudo se embaça, e minha visão começa a mudar, eu me lembro da minha filha correndo pra mim, eu me lembro de como eu a colocava para ninar, eu me lembro de como eu a amava, todo o meu amor e sentimento vem a tona. MALDITA VAMPIRA DOS INFERNOS.
- você esta fadado a derrota papai, você vai morrer aqui e agora - ela simplesmente esta na minha frente, eu não sei quanto tempo eu fiquei em delírio, eu não consigo reagir, os meus nervos, estão a tona, minha garganta queima e eu sinto os caninos dela penetrando a minha pele, ela suga o meu sangue com um vigor que eu jamais imaginei, sinto o meu sangue jorrar aos borbotões, a minha visão embaça e simplesmente eu vejo o meu fim.
De repente eu a ouço gritar, sinto novamente o terror, so que desta vez é pior é como seu eu estivesse gritando também, eu a sinto morrer e sofrer. Eu abro os olhos, minha visão embaçada vê a minha filha com uma cara de espanto e eu ouça as suas ultimas palavras "ha papai, como é rubro a cor do nosso amor." E o monstro se desfaz em pó.

Acima de mim, com a minha faca, esta um outro monstro, um vampiro, sua faca cheia de sangue e ele diz:
- Você é um homem de sorte Paulo, hoje você vive. - Disse o vampiro e evanesceu em uma nuvem de fumaça.